Coisas estranhas
Meu pai chamava-se
Quirino, chamava-se, pois em mil novecentos e noventa e sete, para ser exato
dia dezenove de novembro.
No hospital de nossa
cidade, ele falecia proveniente de um câncer do intestino.
Uns dizem que foi
causado por uma chaga que tinha adquirido ainda na infância; sendo então picado
por um barbeiro.
Já outros dizem que foi
por ele ter fumado a vida toda, desde menino, ninguém sabe o certo que causou
sua morte.
Mas eu, sei que todos
nós os viventes temos que ter alguma doença ou passar por um dano no corpo,
para que desocupemos a terra na hora certa e determinada por DEUS.
Por isso eu nunca me
preocupei com nada que se refere à doença ou mesmo com um acidente que alguém
sofra e venha expirar.
Nunca foi de chorar ou lamentar
perdas de vidas, tenho uma certeza que após a passagem terrena continuaremos
vivendo.
Não posso explicar essa
graça que sinto em mim.
Por isso mesmo não
derramei uma gota sequer, para que perdi aqui nessa existência.
Claro que no momento
fico triste por dentro, mas também sei que foi melhor para aquele que ali se
encontra deixando a vida do corpo.
Creio que se este foi
bom aqui na terra, após a passagem; vai viver muito melhor, já aquele que não
foi de bom grado terá um pouco de dificuldade, eu vejo assim.
Bem mas o que quero dizer é que há coisas estranhas mesmo no
momento em que estamos deixando esta vida terrena.
Meu pai era um homem diferente, se assim posso dizer.
Ele não era totalmente santo, tinha seus defeitos e
ruindades, como todos têm, mas havia nele um dom muito bom, eu acho.
Sabia como ninguém fazer pessoas serem alegres, mesmo em
velório nunca deixava ninguém triste.
Em qualquer parte que ele se encontrava, fazia sorrir todos
que ao seu redor estivesse.
Ate mesmo assistindo televisão, ele com seu jeito fazia
diferença, pois como tinha visão fraca vidrava na tela e com sua boca aberta
permanecia.
Com isso minha irmã dizia pai, vai engolir a TV.
Ele simplesmente dava uma olhada e continuava fitado no
jornal.
Para uns de nós aquilo era engraçado, mas para minha irmã,
aquele jeito, tornava-se medo.
Ele tinha os olhos azuis
com o céu e não tinha mais em sua boca um dente, então sendo ele banguela e
afinando o olhar, com as pestanas dava mesmo diferença, era de foto esquisito
aquilo.
Como ele também tinha
quebrado o dedo minguinho, da mão direita, ficou um pouco torto, como que se
fosse um anzol.
O dedo nunca se
esticava, permanecia sempre arqueado.
E minha irmã, quando ia
entrega a caneca de café para ele, dizia estica o dedo pai, isso é muito feio.
Então naquele dezenove
de novembro quando ele faleceu, ao meio dia, foi eu, minha mãe, meu cunhado e
minha ex-mulher, para o hospital, pois havíamos recebido o recado que ele não
tinha suportado mais a vida terrena.
Lá chegando encontramos
ele em uma pedra no velório do hospital, todo enrolado em lençóis brancos.
Eu notei que ele ainda
estava quente e comentei que ele ainda não tinha feito a passagem.
Mas já era muito tarde,
ali ele se encontrava com a boca aberta e os olhos azuis como o céu, bem
arregalados.
Cheguei bem pertinho e
passei a mão sobre seus olhos e pedi, para que fechasse, pois não ficavam bem,
aqueles olhos vidrados, e ainda disse que colocaria medo nas crianças que
fossem em seu velório.
Assim naquele momento
ele fechou os olhos como que se tivesse grudados com cola.
Minha mãe ao ver aquilo
então pediu para que ele também fechasse a boca e que era para lembrar-se da
filha que tinha medo, assim também ele fechou a boca e parecia que mantinha um
sorriso no rosto, muito alegre.
Ali vi então que ele
tinha feito a passagem para o novo estágio de uma nova vida.
Dava se então a virada
do dia dezenove para dia vinte de novembro, meia noite, um primo de meu pai
chega perto ao caixão e vendo as mãos não apoiada uma sobre a outra, fala com
ele.
Dizendo Quirino dá jeito
de esticar esse dedo, esta horrível ele desse jeito.
Então sem mais sem menos
o dedo minguinho de meu pai se esticou e as mãos se assentaram uma sobre a
outra.
Se não tivesse
testemunhas para esses acontecimentos, seria então a assombração de meu pai.
E desde aquele dia em
diante eu sinto umas coisas estranhas, mas nem sei explicar o que é isso.
Sei que às vezes em meu
quarto na hora de começar dormir, vejo vultos e ouço sons em meus ouvidos, mas
como eu nunca me preocupei com isso, creio ainda que tudo seja ilusão de
pensamentos.
Sei também que isso um
dia passa como passa a vida de todos nós, por tanto fico alegre e ao mesmo
tempo triste com esses acontecimentos.
Fico triste porque não
tenho um domínio para distinguir o que é isso.
E fico alegre por saber
que tenho esse dom diferente, de sentir e ver algo do não explicável.
Esses fatos podem ter
vindo através, daquilo em que vimos acontecer naquele dia em que meu pai
faleceu.
Com isso tenho na mente,
aqueles acontecimentos e pode ser por isso que eu sinta estas coisas.
Mas não tenho medo, queria
saber de fato se é ou não é meu pai, como pode também ser ilusão imaginaria de
minha mente, mas perturba um pouco sim.
Peço a DEUS que me
ilumine e dá-me entendimento para saber o que fazer com tais coisas que estão
atrapalhando meu viver na terra.
Julga-me segundo a tua
justiça senhor, DEUS meu, e não deixes que se alegrem de mim.
Envergonham-se e
confundam-se os que se alegram com o meu mal.
Tu, senhor o viste, não
te cales senhor, e não te alongues de mim
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