Minha Fé Minha Santa.
Hoje
eu dei uma de João migué no batente devia ser umas dez para as três, ou seja,
dez para quinze horas; sentei-me em baixo de uma árvore para tomar um cafezinho
e comer uns bolinhos fritos de milho verde.
Como já disse varias vezes eu trabalho
como empreiteiro de obras e é por isso que fico trabalhando aqui e ali, hora
uma casa, hora outra e nem sempre é dentro da cidade, às vezes dentro de um ano
trabalho na urbe dois ou três meses no máximo o restante é na zona rural.
Sempre pego muita reforma de casas nas
fazendas, casas que servem para colonos ou mesmo os casarões.
Como
citei sou nascido na roça e é por isso que prefiro trabalhar na rural, seja
reformando uma tapera ou construindo um paiol, aprendi a profissão de pedreiro
e daí então comecei por pegar empreitas, com isso tenho que contratar pessoas
para juntos içar a tarefa pega por mim.
Então cada construção que temos que
começar sempre há gente nova trabalhando com a gente.
Ali
estava eu então sentado tomando meu café da serra, da serra porque foi vindo de
uma lavoura do alto.
De
onde eu estava ouvia muito bem um programa evangélico na TV, foi ai então que
me lembrei de uma passagem que tivemos nas terras do senhor Jesus Cardoso.
Contratei um senhor por nome de Raul e
este senhor é nosso conhecido desde muito tempo, ele e meu pai há anos atrás
cantavam música sertaneja.
Com
o tempo meu pai e o Raul deixaram de cantar e Raul sumiu por anos.
Passaram
se muitos anos e agora há pouco tempo eu contratei o senhor Raul para nos
ajudar com nossas empreitadas.
No primeiro dia que senhor Raul começou
no batente, notei que ele já não era como antes, estava muito sério e falava
muito em Jesus, sem mais sem menos ele dizia Ó senhor Jesus, assim era o dia
todo.
Um dia um dos rapazes, pediu para o
senhor Raul maneirar com tanta imploração a Jesus.
Ainda
disse que Deus e seu filho já estão com o saco cheio de tanta gente implorando
e não mudando em nada, sempre pedindo casa, carro, boa vida e nem sequer olha
para os lados.
Senhor
Raul ficou bravo com Jair “era o nome do rapaz” dizendo que ele já tinha
perdido a vida, aquele dia quase pegaram a pau, mas sempre tem um que acalma, e
não deixaram irem em frente com a discussão.
Por muito tempo eles ficaram sem trocar
dedinho midinho, mas passou e hoje eu os vejo o tanto que eles estão se dando
bem um com o outro.
Bem eu ouvindo o pastor urrar como um
leão; lembrei-me da passagem que tivemos com o senhor Raul, isto foi em uma
quinta feira santa, os católicos do interior respeitam muito após o meio dia e
nem mais casa varre, assim, são principalmente os que residem na roça.
Como
estávamos atrasados na entrega da casa iríamos trabalhar então até as quatro
daquela quinta santa.
Até
as dez horas todos animados, uns cantando, outros conversando.
Raul e Joaquimzinho quase que pegando
no tapa, Joaquimzinho é um homem sem religião, mas respeita muito todas as
religiões e fala também muito em santo, já Raul diz que santo não existe e ter
imagem em casa é uma tremenda basbaquice.
Com
esse papo o pau ia moendo entre os dois.
Raul dizia que um dia Joaquimzinho estaria
dentro da igreja que ele freqüentava.
Raul por vezes disse que quebrou várias
imagens de santos e se algum de seus filhos levasse para casa qualquer uma que
fosse ele metia o pé.
Esse papo foi ate à hora em que pedi para
parar com aquilo e também paramos para almoçar, nosso almoço ia das onze ao
meio dia e meia.
A
maioria almoçava junto, mas tinha aquele mais acanhado como o próprio Raul que
saiam a certa distancia para bater o marmitão.
Raul saindo de perto, Joaquimzinho
comentou que ele era doido varrido de falar mal dos santos, isso era onze e
vinte mais ou menos.
Meio
dia e meia, começamos no batente outra vez.
Treze horas e dezessete minutos, armou
uma tempestade vindo com uma ventania de mais de sessenta por hora, e como
rasgava o céu de brilhos luminosos de raios e que foguetório de trovões sem
parar.
Uns
seis minutos mais ou menos foi o suficiente para as nuvens negras chegarem até
onde estávamos mal adentramos a sala a chuva forte desceu sem muita calma.
Trovões e raios por toda parte, caem um
em uma cerca, outro em uma árvore e mais um aqui e outro ali, de onde estávamos
pela janela via se o pasto grande e o gado procurando esconderijo muito
rapidamente, mas de um momento para outro, ali bem perto de nós uma vaca foi
atingida por um raio fatal.
Joaquimzinho como quem não diz, mas
dizendo mostra o nervosismo de Raul, que circulava sem para por todos os
cômodos da casa.
A chuva com raios e trovões não durou
mais que vinte e cinco minutinhos, mas com toda fúria que ninguém possa imaginar
e foi o suficiente para dar um exemplo para todos que ali se encontrava.
Além de ter matado a vaca perto da
janela caiu outro na árvore forte fazendo a sumir.
Raul
começou então a gritar por Nossa Senhora Aparecida, e repetia desesperadamente
por varias vezes o nome da Santa dizendo, vale-me Minha Nossa Senhora, tenha
piedade de nós Nossa Senhora Aparecida ajoelhando rapidamente a frente da
janela, e parece que Raul ao terminar de pedir a chuva deu trégua.
“Senisio”.
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