Quem
São os Verdadeiros Responsáveis? Uma Reflexão Sobre o Voto, a Política e o Povo
Brasileiro.
Desde 1967 venho observando e
analisando o acontecimento em nosso Brasil — ou melhor, na política brasileira.
E, ao longo de todos esses anos, cheguei a uma conclusão que pode parecer
estranha, mas que faz sentido quando olhamos com atenção: no universo da
política, não existem “bandidos”. Explico: quem trafica não é chamado de
traficante, quem rouba não é considerado ladrão, quem mata não é visto como
assassino, e até mesmo quem corrompe não é rotulado de corrupto. Enfim, parece
que tudo de ruim que testemunhamos simplesmente não existe oficialmente.
Mas, se não existe, como se
explica o caos em que vivemos? A resposta, na minha visão, está menos nos
políticos e mais em quem os coloca no poder: nós, os eleitores.
Segundo estimativas recentes, a
população do Brasil já ultrapassa 212 milhões de habitantes, sendo cerca de 158
milhões de eleitoras e eleitores. Eu me incluo nesse grupo. Isso significa que
temos em nossas mãos uma força gigantesca para transformar o país. Afinal, a
cada dois anos temos a chance de mudar os rumos do Brasil, trocando quem está
no comando, corrigindo erros do passado e dando oportunidades a pessoas que
possam, de fato, trabalhar pelo bem comum.
No entanto, o que realmente
acontece é bem diferente. A cada eleição, repetimos os mesmos erros: ou votamos
nos mesmos políticos que já conhecemos e que nada fizeram para merecer nova
confiança, ou escolhemos candidatos sem biografia sólida, sem preparo, sem
compromisso verdadeiro com a sociedade. E o resultado é sempre o mesmo: a
esperança se renova por um instante e logo se perde, porque nada muda.
É preciso dizer com clareza: o
eleitor que não pesquisa, que não busca informações, que não avalia a vida
pregressa do candidato, torna-se cúmplice de tudo o que há de errado na
política. Se um candidato tem, de dez opiniões, três ou quatro pessoas dizendo
mal dele, por que insistir em votar nesse nome? Não seria melhor deixá-lo de
lado ainda na campanha do que depois se juntar à multidão que se arrepende?
E não faltam exemplos recentes
para provar isso. Basta ver o que aconteceu na Câmara dos Deputados: foi
aprovada, em dois turnos, a chamada PEC da Blindagem, que aumenta a
proteção judicial para deputados e senadores, dificultando medidas cautelares,
processos e até reforçando o foro privilegiado. No primeiro turno, foram 353
votos a favor e 134 contra; no segundo, 344 a favor e 133
contra. Partidos de direita, esquerda e centro se uniram para defender seus
próprios interesses.
Outro caso pode ser a votação da
anistia aos envolvidos do golpe e nos
crimes de 8 de janeiro de 2023, quando prédios dos Três Poderes foram
invadidos e depredados em Brasília. A anistia, que perdoa crimes cometidos
contra a própria Constituição, também aparece com forte apoio de deputados.
Ora, se até quem atenta contra a democracia recebe perdão dos políticos, o que
esperar?
Esses exemplos mostram que,
quando se trata de proteger a si mesmos ou aos seus aliados, os parlamentares
deixam de lado diferenças ideológicas e se unem. E quem colocou cada um deles
lá? Nós, os eleitores, somos os culpados.
A mudança deve começar de baixo
para cima. Precisamos olhar com seriedade para a eleição de vereadores e
prefeitos, porque é nesse nível que os primeiros erros se repetem. Depois, para
deputados estaduais, federais, senadores, governadores e presidente. Se não
exigirmos honestidade e preparo já nos primeiros degraus da política, como
esperar que algo de bom venha das instâncias mais altas do poder?
O que me entristece é ver que
muitos eleitores continuam trocando seu voto por favores pequenos e
passageiros: uma festa, um show, uma conta de energia/água paga, um botijão de
gás, uma compra no mercado ou até mesmo uma simples cachaça. Será que esse tipo
de troca vale mais que quatro anos de futuro para toda a coletividade? Quem age
assim não está apenas enganando a si mesmo, mas também colaborando para manter
um sistema podre que beneficia poucos e prejudica milhões.
Portanto, pergunto: quem são os
verdadeiros “bandoleiros”? São apenas os políticos que elegemos ou somos nós,
os eleitores, que votamos sem consciência e perpetuamos os mesmos erros? Reflita!
Ninguém tem direito de reclamar
de nada se não assumir o próprio papel nesse processo. Nem você da direita, nem
você da esquerda, nem você do centro — todos são culpados com seu do voto. E se
o povo não mudar a forma de escolher, nada mudará. O eleitor precisa deixar de
agir como cúmplice, como quadrilheiro, e passar a ser agente de transformação.
Eu, pessoalmente, sou eleitor
desde os meus dezoito anos. Já participei de muitas eleições e, confesso, nunca
consegui ver o candidato em quem depositei meu voto chegar ao poder. Talvez
seja azar meu, talvez seja reflexo de um país que ainda não aprendeu a votar.
Mas sigo acreditando que, um dia, se cada eleitor fizer sua parte, deixar de
ser bandoleiro, poderemos ver nascer um Brasil diferente, mais justo e honesto.
Enquanto isso não acontecer,
continuaremos repetindo a mesma história: reclamar de tudo, mas insistir nos
mesmos erros.
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