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terça-feira, 17 de julho de 2012

Últimos dias. 17/07/12


Últimos dias.
Hoje vinha eu descendo ladeira,
quando bem no começo avistei lá embaixo, no meio da rua um senhor mais ou menos de sessenta e cinco anos, revirava um monte de concreto para lá e para cá, aquele monte de areia, pedra brita e cimento parecia estar tão pesado, continuei descendo e observando o senhor com seus movimentos.
Via o senhor já um pouco mais de perto e notei que estava todo suado e com um semblante pálido sua fisionomia estava como a de um defunto, tinha os olhos brancos como lã de carneiro e um pouco avermelhados nos cantos, como se estivesse com um grão de areia ficando.
De um lado e de outro dos olhos corriam água como se fosse lagrimas, mas não era, e sim suor como se existisse ali uma mina.
Cheguei muito próximo e cumprimentei, dizendo bom dia, pois ainda eram dez horas da manhã.
Ele me respondeu com uma voz quase que perdida em um buraco de onde não sai o som, eu ainda continuei com a conversa, como hoje esta quente em!
Sim!
O calor esta mesmo infernal e esse serviço que o senhor esta fazendo é muito pesado.
Sim!
Já estava ficando inquieto, pois o senhor não tinha papo, não que eu queria arrancar alguma coisa dele, mas pensei, olhando para ele, se ele parar um pouquinho vai descansar, virava e revirava a massa.
Outra pergunta fiz, não vejo pedreiro o senhor esta trabalhando sozinho?
Sim!
Não tinha mesmo jeito, aquele senhor não era mesmo de conversa, já quase indo me embora, ele toma iniciativa e fala, ainda com a voz fraca.
Eu trabalho só, porque esta é minha casa dos sonhos, levei cinqüenta e cinco anos para isso acontecer e agora já estou quase no final dando os últimos acabamentos, hoje mesmo estou fazendo o passeio em volta, já esta quase pronta.
É a vida é mesmo difícil.
Difícil nada tem que se ter garra e olha que não é pouca garra, comecei com meus dez anos trabalhando aqui e ali, sempre no pesado e hoje estou terminando o sonho de morar no que é meu.
O senhor é solteiro?
Não!
Eu tenho mulher e cinco filhos, meus filhos são casados, eles moram longe, agora vivi somente eu e minha esposa, por isso consegui comprar o terreno e construir esta moradinha.  
Então o senhor já é aposentado?
Que nada, como disse a vida toda trabalhei aqui e acolá, sem registro e não é fácil aposentar sem provar que trabalhou, nem documento eu tenho, sou analfabeto.
Desde os meus dezesseis anos sempre trabalhei para minha família, mulher e depois filhos, nunca tive tempo de procurar estudar para conseguir um emprego melhor, mas fazer o que se é isso que a vida tinha para me dar.
O senhor lutou muito então?
Como lutei; mulher e cinco filhos não é pouco, mas o importante disso tudo é que fiz minha parte, dando carinho e amor, também não deixando passar necessidades e depois mandando para escola, não aprenderam mais porque tomaram rumo diferente para suas vidas.
 Cada vez mais eu olhava aquele senhor e me sentia tão pequeno neste mundo, via dentro daqueles olhos brancos afundados e aquele suor que não parava de descer do rosto, ele ainda rolando a massa para cá e para lá me fez uma pergunta.
Você é casado?
Não senhor, vivo com minha mãe.
Trabalha no que?
Eu trabalho como pintor de paredes e sou eletricista de residência.
Á sei, então assim que for fazer as instalações na moradinha, eu te chamo isso eu não sei fazer, mas o resto faço tudo.
Esta bem é só me chamar que venho, bem agora vou indo, tenho que ir pegar uma furadeira, até logo.
Até logo, você mora onde.
Eu moro no final dessa rua mesmo, no numero cento e vinte.
Esta bem então eu te procuro, mas não venha me cobrar caro, porque não tenho dinheiro.
Sai andando e pensando se aquele senhor for mesmo me chamar para fazer as instalações de sua moradinha como ele chamava a casa, como posso cobrar caro, ali eu vi tanto sofrimento, com aquele sol de rachar o senhor já não era mais branco e sim roxo.
Eu nunca tinha visto aquele homem, mas só de olhar em uma pessoa a gente nota que é sofredor, com tantos calos nas mãos, o cabelo com suas pontas esbranquiçadas de tanto sol forte, pintas avermelhadas por toda parte dos braços e muitos sinais de aranhões, pois uma pessoa de mais idade tende a ter a pele um pouco frágil.
Claro que não posso deixar de cobrar pelo serviço, pois também preciso como ele, mas que der para fazer eu farei.
Se bem pelo que notei é bem capaz dele mesmo fazer o serviço, disse que não sabe, mas curioso isso eu acho que é,
Como pode ser isso, neste mundo em que vivemos há tanta desigualdade, uns têm muito, outros pouco e uns tantos nada têm.
Mas infelizmente a vida é mesmo assim, aquele homem ainda teve e tem coragem de lutar para ter ao menos uma morada.
Agora têm que continuar lutando para pagar os impostos da moradinha para que não perca ela um dia, será que vale a pena acabar com o corpo de tanto trabalho com sofrimentos para já com seus sessenta e cinco anos adquirir uma moradinha?
Será que aquele senhor de sessenta e cinco anos vai viver seus restinhos de vida em paz?
Como ele mesmo disse não é aposentado e tem que continuar na luta até seus últimos dias.

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