Por que os cortes de gastos públicos não começam por quem mais gasta?
O discurso político e a contradição
1. O que significa “reduzir gastos públicos”?
Reduzir gastos públicos significa cortar despesas do governo
— seja ele federal, estadual ou municipal. O objetivo, em teoria, é equilibrar
as contas públicas, ou seja, gastar menos do que arrecada para evitar dívidas e
melhorar os serviços essenciais.
2. Quem compõe o
"governo"?
O governo tem três poderes independentes:
- Executivo
(presidente, governadores, prefeitos e suas equipes);
- Legislativo
(deputados, senadores, vereadores e seus gabinetes);
- Judiciário
(juízes, tribunais, promotores, etc.).
Todos os três têm orçamentos próprios e consomem recursos
públicos. E, de fato, todos vivem de verbas que vêm do contribuinte.
3. O discurso político e a contradição
Quando parlamentares dizem que “o governo precisa cortar
gastos”, normalmente se referem ao Executivo, como se eles próprios
estivessem fora desse "governo". Isso é uma contradição, pois:
- Os gabinetes
parlamentares também gastam muito (salários, assessores, verbas
indenizatórias, viagens, etc.);
- O Judiciário
também tem altos custos (auxílios, aposentadorias, estrutura etc.);
- E
todos esses órgãos raramente propõem cortar os próprios privilégios.
Ou seja: todos solicitam cortes — menos onde eles mesmos
estão.
4. Por que não
começa pelo Legislativo e Judiciário?
Essa é a pergunta central da sua reflexão. Algumas razões
para isso não acontecer são:
- Autonomia
dos poderes: cada poder é independente e pode decidir seus próprios
gastos. O Executivo não pode mandar cortar o orçamento do Judiciário ou do
Legislativo.
- Falta
de vontade política: poucos políticos têm coragem de propor cortes que
os afetem diretamente.
- Corporativismo:
Há uma cultura de proteção mútua nas instituições, onde se evita
mexer nos “privilégios do grupo”.
- Desinteresse
do eleitorado: infelizmente, parte do eleitorado não acompanha ou
cobra mudanças estruturais.
5. O que seria
mais justo?
Sim, seria justo e coerente que os cortes começassem
justamente por onde os gastos são mais altos e menos fiscalizados — o alto
escalão dos três poderes. Isso incluiria:
- Redução
de verbas de gabinetes;
- Corte
de privilégios como auxílios, veículos oficiais, aposentadorias especiais;
- Diminuição
de cargos comissionados;
- Mais
transparência e auditoria de todos os gastos públicos.
Resumo da explicação
Todos têm razão ao não entender por que os cortes não
começam por quem mais consome recursos públicos. O discurso é, muitas vezes,
hipócrita: exige sacrifícios da população, mas protege os próprios interesses.
Para mudar isso, seria necessário, pressão popular, reforma política, mais
transparência e consciência coletiva sobre o uso do dinheiro público.
Por que os cortes de gastos públicos não começam por quem
mais gasta?
Vivemos em um país onde é comum ouvir políticos — sejam
deputados, senadores, vereadores ou membros do Executivo — afirmarem que o
governo precisa “reduzir os gastos públicos”. O curioso é que essas declarações
quase sempre vêm de pessoas que, elas próprias, ocupam cargos públicos ou
orbitam em torno deles. Isso me faz pensar: se todos eles reconhecem que o
gasto é alto, por que os cortes não começam por onde os custos são mais
evidentes — nos próprios poderes Legislativo, Judiciário e até nos altos escalões
do Executivo?
Parece contraditório exigir sacrifícios do povo enquanto os
próprios parlamentares, magistrados e autoridades continuam usufruindo de
verbas generosas, auxílios diversos, carros oficiais, diárias, aposentadorias
especiais e outras regalias mantidas com dinheiro público. É como se o problema
fosse sempre dos outros, e nunca deles mesmos.
A verdade é que todos os poderes — federal, estadual e
municipal — possuem altos custos de manutenção. Cada um tem sua autonomia
orçamentária e seus próprios mecanismos de controle, dificultando a
imposição de limites reais de fora para dentro. Além disso, falta vontade
política para cortar na própria carne. Cortes nos próprios benefícios são
raríssimos, e geralmente evitados por medo de perder privilégios ou votos.
A população, que arca com todos esses custos, deveria exigir
mais coerência. Se é para cortar gastos, que se comece pelos que ganham mais,
têm mais estrutura e consomem mais do erário. Reduzir a máquina pública não
pode significar somente menos saúde, menos educação e menos transporte. Precisa,
antes de tudo, significar menos desperdício, menos privilégio e mais justiça
com o dinheiro público.
Enquanto isso não acontecer, continuaremos a ver um teatro
onde todos apontam o dedo para os outros, mas poucos estão dispostos a dar o
primeiro passo na direção da verdadeira responsabilidade fiscal.
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